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Entrevista com estudante campo-grandense que morou um ano e quatro meses nos Estado Unidos

Diego Moicano, repórter do site CG na Mídia e Leandro Ismael, estudante campo-grandense.

1. Boa noite, Leandro. Fale brevemente sobre você e sua história.

Boa noite. Meu nome é Leandro Ismael de Almeida, 24 anos, nascido em Campo Grande/RN. Sou o primeiro dos quatro filhos de Maria Lucinalva e Francisco Almeida. Minha infância foi muito tranquila e humilde ao lado de minha família, até que após o divórcio dos meus pais, quando eu tinha 6 anos, as coisas ficaram um pouco turbulentas. Com minha mãe desempregada e solteira e meu pai recebendo um salário mínimo pra sustentar quatro crianças, meus irmãos e eu tivemos que começar a trabalhar além estudar. Juntamente com meu pai, meus irmãos e eu fazíamos lanches pra vender em frente à escola onde muitos dos clientes eram meus coleguinhas de sala de aula. Felizmente o negócio cresceu com alguns anos e, além disso, a minha mãe passou a ser atendida pelo programa Bolsa Família. Isso deu um fôlego nas nossas finanças e eu pude pagar aulas extras de Matemática com o Professor José de Leocrício na intenção de ingressar na sonhada e concorrida escola técnica CEFET/RN, hoje IFRN (Instituto Federal do RN). Fui aprovado no exame de seleção do CEFET para o curso técnico em Informática no campus de Ipanguaçu na microrregião do Vale do Assú - para onde me mudei e estudei por 4 anos até a conclusão do curso. Ao fim desse tempo, prestei o ENEM e o vestibular da Universidade Federal do RN (UFRN) pela qual fui aprovado para o curso de Bacharel em Engenharia Elétrica. Assim me mudei para a capital potiguar Natal onde estudo na UFRN o meu curso de engenharia até hoje.

2. Como conseguiu sua bolsa de estudos na Flórida, Estados Unidos?

As coisas aconteceram meio de repente. Dedicando-me na faculdade, eu consegui uma bolsa de iniciação científica num laboratório da universidade e também dava aulas particulares de matemática em Natal. Essas atividades me rendiam um pouco de dinheiro e somando com a ajuda que minha família me enviava do interior do estado eu paguei um curso presencial de inglês na Minds English School. Inicialmente eu estudava inglês só por diversão e curiosidade, mas logo ouvi falar do programa do Governo Federal Ciência Sem Fronteiras, que tinha como meta enviar 101 mil universitários para fazer intercâmbios em várias universidades de diversos países até 2014. Os critérios para participar do programa eram muitos, entre eles estar em boa condição acadêmica na universidade, estudar um curso de engenharia ou ciências e passar no exame de proficiência para o idioma do país em que você estivesse interessado em estudar. Eu já tinha um amigo campograndense na Flórida, Érico Castro, estudante de engenharia elétrica da UFCG em Campina Grande/PB. Ele estava lá pelo mesmo programa de intercâmbio e me ajudou bastante durante o meu processo. Eu fiz o exame de proficiência em inglês e fui aprovado em todos os requisitos para ingressar no Florida Institute of Technology, em Melbourne, onde meu amigo Érico já estava a 115 km de Orlando e 280 km de Miami.

3. Quanto tempo você ficou em Melbourne e o que estudou lá?

O tempo total do meu intercâmbio foi de 16 meses. Assim que cheguei aos Estados Unidos eu comecei um curso intensivo de inglês no ELS Language Center, uma instituição de ensino de língua inglesa para estudantes estrangeiros e com muitas filiais pelo país. Eu estudei inglês o dia inteiro por mais de quatro meses numa escola onde quase todos os funcionários e professores eram Americanos e eu tinha colegas de classe vindos de vários países como Líbia, Arábia Saudita, China, Japão, Turquia, México, Venezuela e também vários outros brasileiros como eu, todos juntos tentando aperfeiçoar o nosso inglês. Ao fim desse curso de inglês inicial no intercâmbio, comecei em Janeiro de 2015 a ter aulas na faculdade, onde estudei engenharia elétrica até Dezembro, quando finalizei meu intercâmbio e voltei pro Brasil.

4. Onde você morava? Como era seu custo de vida lá?

No decorrer dos 16 meses eu morei em três prédios diferentes, todos dentro da faculdade. Lá eu dividia espaço com estudantes de vários países e tinha acesso a todos os serviços como água, luz, internet, refeições, lazer e as matérias da faculdade pagas pelo Governo Federal. Além disso, eu recebia uma bolsa a cada três meses e ajuda de custo para compra de material escolar e para as viagens de ida e volta entre o Brasil e os EUA. Então posso dizer que não tive nenhum custo pessoal durante o intercâmbio, pois todas as minhas despensas foram pagas pelo Governo Federal.

5. Como você resumiria sua experiência nos Estados Unidos?

Incrível e inesquecível! E tudo isso antes mesmo de por os pés na Flórida. Desde toda a tensão e ansiedade que eu sentia durante o processo de aprovação do intercâmbio, quando eu apenas sonhava com a possibilidade de ir pros EUA. Depois também quando eu recebi o resultado da aprovação e senti minha autoestima nas nuvens. A experiência aterrorizante e empolgante de viajar completamente sozinho dentro do meu próprio país durante as conexões e escalas dos voos com destino a Miami, a primeira cidade em que pisei quando finalmente cheguei aos EUA. As primeiras frases trocadas com Americanos nativos quando eu pedia informações a pessoas aleatórias nas ruas assim que cheguei… No começo tudo isso foi muito difícil e eu tive que ter paciência pra aprender a conviver e me adequar ao “American Way of Life”. Além do problema com o idioma que inicialmente eu não dominava 100 % eu tive que me adaptar a um novo cardápio diário, novos colegas de classe e professores, também novas formas de lazer e de como me relacionar com pessoas de culturas completamente diferentes. Quando tinha um feriadão e uma graninha sobrando eu aproveitava pra viajar dentro e fora do estado. Miami, Orlando, Daytona Beach, Panama City Beach, Jacksonville, Georgia, Carolina do Sul e Carolina do Norte, Virgínia e a Casa Branca em Washington DC foram com certeza as viagens mais marcantes desse intercâmbio. Fiz amigos com os quais mantenho contato até hoje e pretendo rever muito em breve.

6. Suas expectativas sobre o Tio Sam foram alcançadas?

Eu já tinha uma ideia vaga sobre como seria a vida nos EUA de acordo com a mídia e os shows de TV, como filmes e séries. Claro que na realidade as coisas não são como nas produções de Hollywood. Vendo noticiários diários eu pude ver o que eu já suspeitava, os EUA são um lugar maravilhoso de se viver mas não são um paraíso. Mesmo a maior potência mundial ainda não conseguiu resolver completamente problemas sérios como o racismo, a xenofobia, o terrorismo, a fome e a pobreza. Felizmente, os problemas mais sérios eu só via pela televisão ou pela internet, pois onde eu vivia era realmente um lugar bem pacato e com quase nenhuma ocorrência policial. Mas no geral, não tenho nada a reclamar pessoalmente, pois sempre fui muito respeitado por todas as pessoas com quem me relacionei, desde os faxineiros e caixas de supermercado até os professores e funcionários da faculdade. Todas as pessoas em geral eram muito prestativas e educadas na hora de me atender. Serviços como bancários, de telefonia e internet eram sem burocracia e muito eficientes. O acesso a bens e serviços era muito mais barato e rápido do que eu estava acostumado no Brasil. Finalmente, eu destaco a educação das pessoas no trânsito e no cotidiano, eu também me sentia muito seguro mesmo andando nas ruas de madrugada sozinho falando ao celular pois a polícia realmente passava confiança e eficiência sempre que alguma rara ocorrência acontecia na cidade.

7. Uma mensagem final para os nossos leitores.

Só tenho a agradecer a toda minha família e amigos por toda força e apoio que sempre me deram nas minhas decisões, especialmente meus pais, minhas tias e meus avós. Agradeço também ao site CG NA MÍDIA por esse espaço em que pude expressar minha experiência para os meus conterrâneos e pelo serviço de informação prestado à população de Campo Grande. Eu estou consciente de que a minha vida apenas começou e ainda tenho muitas coisas para fazer, lugares para ir e pessoas para conhecer. Muito feliz por tudo que já se passei, eu olho para o futuro com confiança. Estou certo de que com a motivação que tenho para continuar estudando e buscando o melhor pra minha vida, juntamente com o apoio da minha família, o caminho da educação será a porta para a minha felicidade.

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